segunda-feira, março 19, 2007

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A China afasta-se dos costumes e comportamentos de um passado recente, moderniza-se, e os artistas contemporâneos reflectem isso nas suas obras, onde o passado parece estar mais vivo que o presente. Hong Lei em Autumn in the Forbidden City, revisita a emblemática Cidade Proibida. Hong Lei fotografa um passáro mutilado, no palácio imperial.




Hong Lei, Outono na Cidade Proibida, Pequim (East Veranda) , 1997

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Hong Lei, Outono na Cidade Proibida, Pequim, (West Veranda), 1997


“These are the first artworks in which I used photography. The bird is empty inside. I wanted to make a work about five thousand years of Chinese history and its unchanging political system. China has been dominated by tyranny for thousands of year and is still a one-party system. You cannot stamp out tyranny. It still exists and the palace symbolizes its persistence. The jeweled bird represents the emperor’s concubines. The concubine has been left to die, which symbolizes the suffocation of artistic expression by tyranny. Over time I have come to see the dead bird as the embodiment of my own self…During the time this photograph was made…the entire world around me in China kept changing. Many beautiful traditions such as the ancient gardens were being demolished to make way for new cities. I was really concerned about history being totally destroyed. I needed an outlet to express what I was feeling about this new reality”.
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Mas, este crescimento galopante rumo a uma sociedade de consumo ao estilo ocidental tem outras consequências drásticas. Se o mercado aberto trouxe dinheiro e conforto, a poluição é hoje um dos maiores perigos que a China enfrenta, é o preço a pagar pela riqueza. A poluição e outros flagelos presentes em trabalhos de Lu Guang o "Fotografo do povo".


Lu Guang, Poluição, 2005
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Para se ter uma ideia da gravidade, se a China se aproximasse dos níveis dos EUA no que respeita ao número de automóveis por família, cerca de 600 milhões de carros circulariam nas estradas chinesas, o que corresponde a mais do que o total de veículos hoje existentes no planeta. Os artistas chineses pressentem este perigo e através da fotografia e vídeo, os meios privilegiados da arte actual chinesa, alertam para os riscos desta sociedade de consumo que só reconhece a satisfação individual. Zhang Huan, o artista que a PhotoEspaña utiliza no seu cartaz, usa o seu próprio corpo nas performances que realiza. Para ele “The body is the only direct way through which I come to Know society and society comes to Know me. The body is the proof of identity. The body is language”.
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Zhang Huan. Skin, 1997 e 1/2 (meat+text), 1998.
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Zhang Huan" My America" 1999 C Print 18" x 24"
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Zhang Huan, Family Tree, 2001. Zhang Huan, Foam, 1998


Realiza Family Tree, uma sequência de nove fotografias, em que de forma gradual a sua cara desaparece sob a acumulação de uma caligrafia que revela graus de parentesco, títulos de histórias chinesas e de elementos primordiais como a terra, o fogo e a água.
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A rápida metamorfose que se opera na China conduz o indivíduo para a morte.Em cada ano, cerca de 10 milhões de trabalhadores rurais, procuram as cidades, aspirando a uma vida melhor. Este crescimento acelerado das cidades marca uma profunda mudança de uma cultura agrícola para uma sociedade industrial. Os artistas não ficam imunes à amplitude e rapidez desta transformação. Como nos trabalhos de Sze Tsung Leong.

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Sze Tsung Leong, Distrito de Chaoyang , Pequim, 2002



Sze Tsung Leong, cidade de Chongqing, 2003


Sze Tsung Leong. Causeway Bay I, Hong Kong, 2004.


O ciclo desenfreado de destruição e construção é o tema do trabalho de Zhang Dali. Regressado de Itália, onde viveu durante seis anos e onde viu os primeiros graffiti, chega a Beijing (Pequim) em 1995 e depara-se com a demolição acelerada do centro da cidade. Começa então a desenhar o seu perfil nas paredes das casas demolidas, sugerindo testemunhar o que se passa.


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Zhang Dali, Demolição: Cidade Proibida e World Financial Center, Pequim 1998.
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De 1995 a 1998 desenha mais de duzentos perfis e transforma essas ruínas em locais de arte, embora efémeros. Utiliza a fotografia para documentar a sua intervenção, e nos seus enquadramentos visualizamos através das ruínas as novas torres que caracterizam agora Beijing (Pequim). Para Zhang Dali, a monotonia deste estilo internacional irá afectar a forma de vida de cada um. Nas novas cidades, iguais a tantas outras no mundo, as relações humanas estão condenadas à degradação.A calamidade que ocorre nas cidades chinesas é tema recorrente.
Luo Yongjin de uma forma mais analítica condensa em várias fotografias diferentes momentos da construção, como se se tratasse de um diagrama. A montagem final dá origem a uma imagem monumental. Luo Yongjin, capta o drama do que está a acontecer em todas as cidades chinesas.
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Luo Yongjin, Lotus Block, 1998/2002

Mas todos estes trabalhos, assentes na visão pessoal de uma geração, só fazem sentido na conjuntura actual chinesa. É na dualidade, da explosiva expansão económica simultânea com a perca das tradições, que a maior parte da nova geração se exprime. A arte não sofreu a mesma globalização que a economia. Qual o resultado destas mudanças aceleradas? Nem mesmo os artistas conseguem avaliar.